Marcelo Quirino
Psicólogo Clínico
Membro da PIB Guarani – São João de Meriti/RJ
www.marceloquirino.com
O contexto da pós-modernidade requer novos perfis de liderança.
Características óbvias se substituem por outras na atualidade. Não se
fala mais em líder nato, nem em líder através de traços de
personalidade. Percebeu-se – já era hora – que a liderança antes de ser
exclusivamente uma habilidade precisa ser considerada como um fenômeno.
Fenômeno pode ser traduzido como um conjunto de forças diversas que
proporcionam um fato. Isso retira do conceito de liderança qualquer
simplismo. Liderar é dirigir alguns de alguma forma rumo a algum
objetivo num determinado contexto-ambiental. Nesse caso, o fato social
liderança precisa ser do tipo de influência inter-humana. Portanto,
proporcionar influência é a finalidade-fato de qualquer liderança
produzida numa instituição ou grupo.
A influência poderia ser definida como a irradiação de formas
próprias de pensamentos, crenças, valores, afetos, emoções,
comportamentos e atitudes por entre os seres humanos. Esta propagação
de elementos se deve à capacidade que os seres humanos possuem de
provocar determinadas sensações e percepções na psique de outros seres
humanos.
A influência é um axioma. Não precisa de demonstração. Basta ver os
bocejos contaminadores, os risos contagiantes e as pessoas que vivem
passando seu clima emocional ruim ou bom na sociedade e contaminam todo
o ambiente com seu mal ou bom-humor.
Apesar disso, precisamos entender os mecanismos sobre os quais opera
a influência a fim de produzi-la intencionalmente sobre determinado
grupo e de determinada forma. A questão então seria: que tipo de
influência e como desenvolvê-la para um grupo específico e como
mantê-la de forma eficaz?
A Cultura e as Teorias da Influência
Respostas a essa pergunta se sucederam em explicações sobre o
fenômeno da liderança. Diversas teorias sobre os fatores que incidem na
influência foram desenvolvidas. Tal diversidade se deve às mudanças
éticas, históricas, morais e políticas e culturais que perpassam o
humano ao longo dos tempos.
O que diferencia uma teoria da outra é a forma como uma teoria
explicita a influência, o que é privilegiado em sua explicação, e quais
os elementos são os primeiros determinantes da influência em
determinada cultura.
Assim sendo, o julgamento de se tais teorias eram ou não certas ou
erradas não faz sentido. Não há certo e errado, apenas descobrimentos
dos e elementos que produzem a influência em determinada cultura.
Eram teorias que davam conta do homem histórico daquele momento em
uma determinada época. Época onde a estrutura psicológica do homem se
apresentava de uma forma específica e condizente com um contexto
sócio-cultural.
Entretanto, como a sociedade e seu contexto mudam, as teorias
precisam acompanhar esse desenvolvimento para dar cabo de seu poder de
explicação.
Com isso, percebeu-se que o processo de influência depende de
variados elementos. Desde traços psicológicos a características dos
liderados. Em cada época se explicitou que a influência se apresentava
de uma forma ao longo da história e nas culturas.
Isso quer dizer que líderes não levam sempre suas influências
típicas para grupos diversos, ela é um fenômeno daquele grupo onde ele
se encontra. Isto é um axioma das relações humanas. Onde há duas
pessoas há influência e uma liderança circunstancial daquela rede de
relação que pode ser permutada entre as duas dependendo da
circunstância ou fixa numa só.
A Produção da Influência
Em algumas culturas, como a militar e a indígena, os elementos de
influência se apóiam sobre a hierarquia funcional e o poder
inquestionável. Já em ambientes menos autoritários, a influência
precisa ser produzida para se assegurar o processo de liderança.
O que faz a ciência psicológica é estudar esse fenômeno para produzi-lo
intencionalmente. Aqui compromete-se indispensavelmente numa dimensão
política e ética, já que se retira a liderança do domínio do
circunstancial e contingencial para o intencional. De humano para
institucional.
É ainda nessa produção da influência é que se encontram os equívocos
de ordem técnica. Pois se formulam fórmulas prontas que desconsideram o
circunstancial especifico daquele ambiente relacional.
Ambiente porque sobre a influência não incidem apenas forças
humanas, mas as do ambiente no qual aquela rede de relações está
inserida. Isso explica o porquê de alguns técnicos de futebol serem
mais eficazes para levantar um time da última posição do campeonato do
que manter outros times no topo da tabela.
A ideia não é reduzir a liderança para a teoria situacional, mas
englobar forças diversas que a compõem para demonstrar esse fenômeno
complexo que é a influência.
A influência pode ser obtida por poder inquestionável (militar), por
persuasão e convencimento racional (cargos ocupados por eleição), por
atração afetiva (líder carismático e namoro), por conhecimento de causa
(como a influência de um especialista), convenção (como cargos de
empresa), herdado (herdeiros de um cargo monárquico), por identificação
(de valores e crenças entre líder e liderados), antiguidade (famílias
da Índia) e por espiritualidade (como os líderes religiosos), dentre
outros.
As Sete Dimensões da Liderança
O fenômeno da liderança acontece sobre algumas dimensões básicas que
devem ser observadas por quem objetiva influenciar. Toda liderança
possui essas dimensões sobre as quais operam. O que fazer em cada
dimensão é o que gera o sucesso da formula pessoal especifica daquela
rede de relações.
São as sete dimensões que os líderes devem observar para desenvolver a influência e a liderança.
1) Habilidades psíquicas, comportamentais e sociais;
2) A estrutura e a dinâmica da equipe de liderados;
3) A cultura, os valores e o ethos social da instituição;
4) As especificidades técnicas do trabalho;
5) O ambiente externo à instituição;
6) Os fatores contingentes externos e internos;
7) Dimensão espiritual e ética;
O líder deve ter pleno conhecimento de causas e relações e
mecanismos de cada uma dessas sete dimensões do fenômeno da liderança.
Desenvolver domínio de cada uma dessas dimensões a fim de que otimize o
seu processo de influência.
A primeira dimensão abrange as habilidades pessoais da pessoa do
líder. Inteligência, perspicácia, memória, atenção, percepção,
comunicação, linguagem, traquejo, educação, versatilidade e
adaptabilidade de comportamento e linguagem, congruência entre crenças,
valores e comportamentos, paixão e networking são algumas das
habilidades que compõem essa primeira dimensão.
Liderar grupos torna-se sempre um desafio por um único motivo: a
congruência pessoal. O ser humano é perpassado pela dúvida, pelos
temores, pelas indecisões, pelo paradoxo e pelo contraditório. As
expressões de comportamento humano por vezes demonstram contradições
entre os próprios pensamentos, sentimentos, afetos, vontades,
intenções, comportamentos e ou atitudes. A incongruência é típica do
humano, entretanto, o líder deve buscar a todo custo a sua congruência
pessoal.
Já a dimensão da estrutura e da dinâmica da equipe de liderados diz
respeito ao conhecimento da própria equipe de trabalho, seus anseios,
desejos, objetivos, forma de pensar e trabalhar, educação, estrutura
psicológica do grupo, fatores de influência que regem os processos
dentro daquele grupo, competências profissionais e técnicas do grupo e
etc.
A dimensão da cultura, dos valores e do ethos social compartilhados
na instituição é uma dimensão importante. Cada ambiente institucional
possui uma cultura, uma forma de interação humana e profissional ou
ministerial. Os sujeitos são moldados por processos de socialização e
moldam essa cultura. Faltar com o entendimento da cultura institucional
pode ser um pecado capital para o líder.
É o conhecimento da cultura organizacional que vai permitir ao líder
agir com proatividade e desenvolver certo grau de autonomia funcional
dentro da instituição, uma vez que a cultura sustenta princípios que
norteiam os comportamentos na ausência de normas e legislações
específicas. Um líder congruente com a cultura organizacional é um
líder de excelência.
As especificidades técnicas do trabalho são fatores que possibilitam
ao líder orientar-se em sua atividade técnica. É uma dimensão
indispensável ao líder. Ser um expert na atividade que se situa não é o
necessário, mas o líder deve saber situar-se bem dentro do ramo técnico
em que atua. Deve ainda buscar aperfeiçoamento e desenvolvimento
profissional ou ministerial constante para sustentar-se enquanto líder
apoiado na influência técnica.
A dimensão do ambiente externo à instituição refere-se ao mercado, à
localidade ou à comunidade sobre a qual se insere a instituição. Em
tempos pós-modernos as instituições não são mais as suas quatro
paredes. Termos como responsabilidade social e ambiental e voluntariado
rondam as organizações da atualidade. São conceitos que dizem respeito
à interação da organização com a cultura na qual se insere.
Ou seja, as instituições estão indo além do seu produto e serviço
final. A preocupação está em desenvolver aspectos educacionais, legais,
ambientais e sociais do entorno, com o objetivo de prover-se
ocasionalmente de capital intelectual e ao mesmo tempo colaborar com
sua parcela de responsabilidade perante a sociedade.
A dimensão dos fatores contingenciais inclui elementos do ambiental
e do grupal. O acaso. Combatida com proatividade, que é a capacidade de
intervir na realidade de maneira preventiva antes que um erro ou falta
aconteça. Nos fatores contingentes entram a política nacional e
internacional. A globalização e outros fatores que fogem ao controle do
líder de manipulação, mas não de aposta e de previsão. Por isso
incluído nos contingenciais.
A última dimensão é a dimensão espiritual e ética do líder. Nessa se
incluem os valores pessoais, a posição ética, a sustentação de
interesse genuíno pelo desenvolvimento do ser humano. É essa dimensão
que sustenta a perspectiva de liderança servidora.
O Desafio de Estar Líder
O desafio é o líder estudar as principais forças inseridas em cada
um dessas dimensões e realizar ajustes necessários que possibilitem o
desempenho da influência específica para aquele grupo.
A liderança, portanto, não é algo que se transporta de grupo em
grupo. Pode ser que algum grau de influência sim, mas o fenômeno
completo deve ser desenvolvido em cada rede de relações humanas para
conferir mais fidedignidade ao fato social de influenciar naquele grupo.
E como todo fato social, ele está subjugado pelo tempo, ele é
temporariamente localizado e limitado. Isso deve ser objeto de previsão
proativa da liderança para que otimize a largura do tempo em que
permanecerá o processo de influência e para que se antecipe aos
desvanecimentos das forças que a sustentam.
Irradiar a influência é a finalidade desse fato social produzido em
instituições. Portanto, ser líder é saber estar líder. É saber
posicionar-se eticamente sobre um grupo no qual se produz influência.
Ser líder é saber que não se é imparcial, mas que se é parcial desde
que se predisponha a influenciar. Ser líder é saber que a grande
decisão ética é para quê influenciar. Ser líder é ter visão das
implicações dessa influência.
Ser líder é saber que não se está excluído da dimensão política
desse fato. É estar cônscio da própria postura política naquele grupo.
Postura política que nada tem a ver com partidarismo, mas com processos
de decisão comprometidos com posturas e visões para um grupo. Portanto,
o grande desafio da liderança é da ordem ética. É saber posicionar-se
aberta e conscientemente entre os furos do Direito em prol do
bem-comum. Isto é ética. O dever da liderança.
Marcelo Quirino
Psicólogo Clínico (UFRJ)
Fone (021) 8260.6966
www.marceloquirino.com
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